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28 maio 2016 às 09h52

Rock in Rio Lisboa, dia 3. Vampiros de Hollywood e azares de meia-noite 

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No dia mais pesado no Parque da Bela Vista, houve vampiros sedentos de retro rock. E nu-metal demasiado eletrizante para o sistema de som. Cerca de 56 mil pessoas estiveram no recinto.

Nelson Santos

O concerto dos norte-americanos Korn já "começou" com uma hora de atraso e, após duas tentativas frustradas para tocarem o tema «Blind» - com o som a ir, repetidamente, abaixo - a banda de Jonathan Davies lá conseguiu manter uma bem conseguida (mini)atuação de cinco temas. Até que, à passagem pela versão de «One» dos Metallica, o silêncio instaurou-se de novo, abruptamente, levando a que os californianos não regressassem ao Palco Mundo. "Tudo indica que o problema foi do equipamento da banda" refere a organização do festival em comunicado, "estando ainda os detalhes a ser apurados". No final, não havia explicações que satisfizessem quem se deslocou ao Parque da Bela Vista para ver este grupo em particular, formando uma longa fila para assinar reclamações. No mesmo comunicado, a organização do Rock in Rio(RiR) Lisboa indica que "dará uma resposta nos próximos dias" a quem se sentiu lesado.

A verdade é que, até aquela altura - e nos dois dias anteriores, no primeiro ato deste RiR Lisboa - não houvera qualquer problema de som significativo e foi com as guitarras em alta que viajámos pelo revivalismo roqueiro dos Hollywood Vampires. Alice Cooper, de 68 anos, é uma lenda viva do shock rock, mas muitos (e muitas!) estavam ali para ver Johnny Depp, a estrela de Hollywood que é mais conhecida pela filmografia que, propriamente, pela música, embora já tivesse integrado grupos glam nos anos '80.

A história deste grupo, meio original, meio de covers, remonta ao início dos anos '70 quando Cooper e amigos como os já malogrados Keith Moon e John Lennon se encontravam no famoso Rainbow Bar & Grill de L.A até o sol raiar. Para beber e conversar. Só em 2015 sai o primeiro álbum dos Hollywood Vampires, obra de Vincent Furnier, que há décadas encarna o alter-ego de Alice Cooper, aqui acompanhado do também sexagenário Joe Perry, guitarrista dos Aerosmith.

Chegaram a ser quatro as guitarras em palco para interpretar homenagens aos Fleetwood Mac, The Who, The Beatles ou Led Zeppelin. «Whole Lotta Love» com Matt Sorum, ex-Guns N' Roses, a desempenhar um papel tão importante na voz como na bateria e «Ace Of Spades» dos Motörhead foram das que tiveram mais receptividade da assistência, assim como foi interessante ver material próprio como «Dead Drunk Friends» prestar um tributo efetivo a quem passava as noites nas ébrias tertúlias de Los Angeles há mais de 40 anos.

Alice, Joe, Johnny e talentosos músicos de apoio como Matt DeLeo dos Stone Temple Pilots pegaram também em clássicos do próprio Cooper com «School's Out» a colar a «Another Brick In The Wall Part I» dos Pink Floyd para fecho de noite. Foi dos momentos com mais aplausos, a par da altura em que o mestre do hard rock vampiresco anunciou os companheiros de banda, exclamando "Mr. Johnny Depp on the guitar!". É que muita gente esteve ontem na Cidade do Rock - só e unicamente - para ver Jack Sparrow e Edward Mãos de Tesoura, que também teve unhas para tocar guitarra. E até havia cartazes que o pediam em casamento, ao rocker Johnny Depp que veio de uma semana difícil, em que se divorciou da actriz Amber Heard, e perdeu a mãe, de 82 anos.

Antes, entre o fim de tarde e a noite que já caía, soou bem o blues rock dos Rival Suns, outra banda que veio da Califórnia para trazer melodias de uma primavera inconstante, numa altura em que a chuva ameaçava mais do que os poucos pingos que brotaram sobre o recinto. O quarteto que tem feito suporte à digressão de despedida dos Black Sabbath este ano, mostrou, numa dezena de boas canções, porque é uma das novas coqueluches do rock com guitarras e secção rítmica a sério, tendo nos Led Zeppelin uma influência óbvia.

Nos palcos secundários, destaque para o noise rock dos canadianos Metz, que criaram uma pequena catarse, à sua maneira de trio caótico, onde cabem nuances de punk abrasivo, algo que ecoou para umas centenas de interessados no Palco Vodafone onde, antes, os Glockenwise, mais um valor garantido da sempre emergente cena de Barcelos, mostrou como o rock 'n' roll descomprometido também joga bem com harmonias ocasionalmente delicadas.

A sétima edição do Rock in Rio Lisboa prossegue este sábado com destaque para os norte-americanos Maroon 5 e para a repetente brasileira Ivete Sangalo.