Desporto
14 abril 2019 às 11h03

Para ser campeão, o FC Porto tem que imitar um exemplo único com 45 anos

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O Benfica recebe este domingo o Vitória de Setúbal e, para recuperar a liderança ao Porto, tem que vencer. A pressão está do lado dos encarnados, que dependem apenas de si para serem campeões - e têm também a história do seu lado, a propósito de uma curiosa regra da liga portuguesa.

João Nuno Coelho

A luta pelo título continua intensa e este sábado o Porto conseguiu, mais uma vez, pressionar o Benfica, vencendo (por 3-0) na tradicionalmente complicada deslocação a Portimão.

É um facto que nas três únicas partidas disputadas em casa do Portimonense no século XXI (2011, 2018 e 2019), os portistas venceram sempre, mas antes disso tinham deixando pontos em nove das treze visitas a Portimão, incluindo quatro derrotas na década de 1980. Aliás, alguns desses pontos perdidos no Algarve acabaram por ser importantes no desfecho negativo de diversas lutas pelo título, sempre com o Benfica, como no caso das ligas 1980/81, 1983/84, 1986/87 e 1988/89.

Apesar de ter passado para a liderança da presente liga graças ao triunfo deste sábado, o Porto sabe que continua a não depender de si e que tem ainda de ultrapassar uma regra do campeonato português, confirmada por uma exceção (como todas as regras que se prezem): só por uma vez uma equipa conquistou o título tendo perdido os dois confrontos perante o rival direto na luta pelo cetro nacional (o Porto perdeu 1-0 na Luz e 1-2 no Dragão).

A exceção do Sporting campeão de Abril

A única exceção aconteceu exatamente há 45 anos, na temporada 1973/74, e foi o Sporting a protagonizá-la, terminando a prova com mais dois pontos do que o Benfica, apesar de ter perdido 2-0 na Luz e 3-5 em Alvalade. Este último encontro ficou também famoso por ter na tribuna Marcello Caetano (Presidente do Conselho), que foi aplaudido pelas bancadas. Estávamos a 31 de março de 1974, a menos de um mês da Revolução de Abril.

O Sporting foi portanto o primeiro campeão em democracia. E o único a perder os dois jogos com o segundo classificado, em 84 anos de história. Agora, o Porto tem como grande objetivo imitar esta equipa leonina de 1973/74, treinada por Mário Lino, que impediu ainda o tetracampeonato do Benfica (tal como fizera em 1961/62, 1965/66, 1969/70).

A superioridade do Benfica do início dos anos 1970 era de tal ordem que em jogos de campeonato perdeu apenas uma vez em duas temporadas (1-0 no Barreirense), tendo terminado a época 1972/73 com 28 vitórias e somente dois empates na liga.

Olhando para as duas equipas na época 1973/74 é possível perceber que, em teoria, o Benfica possuía um conjunto de jogadores muito mais valioso. Enquanto os leões mais conceituados eram Damas, Diniz e Yazalde, o Benfica tinha nomes como José Henrique, Humberto Coelho, Jaime Graça, Toni, Vítor Martins, António Simões, Eusébio, Artur Jorge, Nené, Jordão ou Vítor Baptista.

Mas nesta temporada, a força coletiva esteve do lado leonino, que também conquistou a Taça de Portugal, vencendo (2-1) o Benfica na final do Jamor. Convém recordar que a época começara com grande turbulência na Luz, devido ao despedimento do treinador tricampeão, o inglês Jimmy Hagan, substituído por Fernando Cabrita.

Após três anos da disciplina férrea de Hagan, os jogadores encarnados terão perdido alguma concentração, enquanto em Alvalade havia um goleador que fazia toda a diferença: o argentino Yazalde. O popular "Chirola", apontou nada mais, nada menos do que 46 golos no campeonato, a melhor marca da história da prova, correspondendo a 48% tentos somados pelos leões. O segundo melhor registo pertence a Mário Jardel, com 42 tentos em 30 jogos na época 2001/02, também ao serviço de um Sporting igualmente campeão, sendo que 16 golos do brasileiro foram de penálti enquanto Yazalde só faturou três de grande penalidade...

O Sporting campeão de 1974 pode não ter ganho ao Benfica a contar para a liga, mas foi o melhor ataque e a melhor defesa do campeonato (96-21), com uma diferença positiva de golos incrível (+75), contra +45 do Benfica, que somente marcou 68 golos (menos um do que o terceiro classificado, o V. Setúbal).

Este Sporting de Mário Lino (que fora também campeão como jogador leonino em 1962 e 1966) somou quatro derrotas no campeonato (duas com o Benfica e em Setúbal e Belém) e três empates. Já o Benfica acumulou também quatro derrotas pelo que o que fez a diferença foram os cinco empates concedidos pelos encarnados.

De certa forma, pode-se dizer que o Benfica acabaria por perder o campeonato nos jogos com o V. Setúbal, empatando 1-1 no Bonfim e perdendo 3-2 na Luz.

Outra vez o Vitória

Antes dessa derrota caseira com o V. Setúbal, no início da segunda volta do campeonato 1973/74, o Benfica esteve invicto em casa durante quase quatro anos. Os encarnados não perderem na Luz qualquer jogo de todas as competições entre 8 de fevereiro de 1970 e 30 de dezembro de 1973.

Curiosamente, é o o clube de Setúbal que visita este domingo o estádio da Luz. Um Vitória bem distante da equipa que na década de 1970 lutava quase sempre pelos lugares europeus (recorde-se que foi terceiro classificado em 1973/74) e várias vezes surpreendeu a Europa eliminando clubes poderosos das competições da UEFA.

Após o triunfo de dezembro de 1973, o clube do Sado apenas venceu uma vez na Luz (em 1987), além de que nos últimos anos o Vitória tem quase sempre lutado pela manutenção. É o que acontece atualmente, mais uma vez, encontrando-se neste momento quatro pontos acima da linha de água.

Apesar disso, é um facto que os sadinos até têm vindo a melhorar nas jornadas mais recentes, graças a duas vitórias seguidas (na Feira e em casa frente ao Marítimo), depois de uma série terrível: 15 jogos sem qualquer triunfo.

O Benfica parte, obviamente, como claro favorito no jogo de hoje, mas terá que manter debaixo de olho o autêntico abono de família sadino, o venezuelano Jhonder Cadiz (oito golos e duas assistências, o que significa participação direta em 45% dos golos do Vitória na Liga), que deu as últimas duas cruciais vitórias à sua equipa.

Aliás, Cadiz é o jogador do campeonato que marca mais golos decisivos: os seus golos asseguraram já quatro triunfos e dois empates ao Vitória, que estaria em situação desesperada sem esses dez pontos.

Escusado será dizer que do lado das águias estará o atual rei dos marcadores da liga portuguesa, Haris Seferovic, parcialmente poupado no jogo da passada quinta-feira frente ao Frankfurt. O suíço, que regressou de lesão com um bis na Feira, marcou em 10 dos últimos 11 jogos de campeonato que disputou, um total de 14 golos. Ou seja, desde que se tornou titular indiscutível (com Bruno Lage) apontou 14 dos seus 18 golos no campeonato. E nenhum de penálti.

Em média, na liga, Seferovic marca à cadência de um golo a cada 79 minutos, destacando-se inclusive na Europa do futebol... Entre os melhores goleadores dos campeonatos continentais, só Messi faz melhor, com um golo a cada 72 minutos.

No total, Seferovic soma 22 golos na presente época, em 43 jogos. O seu melhor registo até agora havia sido 11 golos em 34 encontros, no Eintracht Frankfurt de 2014/15.

Para terminar, vale a pena realçar que o avançado suíço é já o terceiro jogador mais influente do campeonato português (com 18 golos e cinco assistências), logo a seguir a Pizzi (nove golos e 15 assistências) e Bruno Fernandes (16 golos e 11 assistências).

Este foi um dos temas do programa Números Redondos desta semana (na antena da TSF, às sextas-feiras, às 20h30), que pode ouvir aqui, na íntegra.